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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Entrevista - Trinkão Watts - Das Baquetas aos Pincéis


         Trinkão Watts é desses artistas natos e completos: cresce aprendendo a tocar bateria nos utensílios domésticos de sua casa, faz carreira tocando em bandas como Verminose, Magazine, Made in Brazil - bandas de importantes momentos do cenário musical brasileiro pós 1980 -, toca com inúmeros músicos do país, prestando seus serviços de percussionista e, após experimentar tantos enredos musicais, parte para as artes plásticas, chegando a produzir obras belíssimas, que encantam pela sensibilidade. Atualmente Trinkão é radialista e, nessa entrevista ao Mondo Teeno, ele irá falar de influências musicais, da trajetória da música no país, das ideologias dos jovens em sua época, o fator 'mercado' e 'gravadoras' para a produção dos músicos, sobre a cultura do país hoje, e do que ele considera interessante no cenário musical atual.

1Conte-nos sua experiência como Baterista de bandas do circuito Rio-São Paulo durante as décadas de 1980 e 1990. E se brincou com outros instrumentos também.

R:  Minha experiência se deu ainda garoto, me lembro bem tocando nas latas de biscoitos e panelas e baldes em minha casa, mais tarde, já na adolescência, ensaiava com algumas bandas formadas por garotos da minha idade, nas garagem do bairro onde morava.  No circuito Rio-São Paulo toquei somente com bandas de São Paulo, sendo que toquei muito no Rio também.

2- Gostaríamos que nos falasse sua percepção sobre o rock de garagem, e o punk rock em especifico, nascente no Brasil naquela época e sobre o rock'n'roll em geral, sobre como as bandas se articulavam no solo tupiniquim para viver essas experiências.

ROlha, durante os anos 60, 70, até meados de 80, a garagem foi muito importante no senário musical. Das garagens saíram grandes músicos e grandes bandas. Era maravilhoso! Cada esquina tinha uma banda ensaiando!
Bandas punks como Inocentes, Cólera, Garota do centro, Mercenárias, Olho seco, Camisa de Vênus e tantas outras bandas... esse movimento foi muito articulado, seria um tipo do grito da periferia, esse movimento tinha uma ideologia que hoje eu não vejo, hoje o que vemos pelas ruas são punks de boutique.

3- O que poderia nos contar sobre a influência de bandas de fora de São Paulo e de fora do Brasil para a obra das bandas em que tocou. Quais eram os grandes e pequenos nomes de músicos que vocês gostavam de reviver?

R: As influências eram diversas,  cada banda e músicos tinham em quem  se espelhar, seus ídolos. O grupo 365 tem uma grande influência do the clash , por exemplo. No nosso caso, tínhamos  uma pitada dos Rolling  Stones,  Animals, Dead Kenneds, Joy Division, Sex Pistols, etc...


4- Havia algum tipo de filosofia que norteasse o pessoal, em sua opinião? Se sim, como seria ela? Quais eram os livros e revistas que andavam na boca das pessoas com quem convivia e em especifico, os que você mesmo gostava de ler ou conversar sobre naquela época?

R: Sim, a filosofia da moçada era 'contra o sistema', contra a opressão, pela liberdade , pelo fim da censura. O livro que eu mais gostava nesta época era o 1968, que muita gente leu também. As revistas eram a Veja, a Carta Capital, e Época, etc... 

5-Como foi tocar na banda Magazine  com o Kid Vinil numa época em que Menudos era o mot de uma grande parcela da juventude? A nível de identidade, como você, enquanto músico, se diferenciava ou se aproximava da obra deles?

R: Eu e o Kid nos conhecemos em frente a um relógio de ponto, pois trabalhávamos na mesma empresa, e ali nasceu uma grande amizade entre nós. Ele com alguns discos de rock debaixo do braço e papo vai, papo vem, acabamos montando o grupo Magazine. Eu nunca torci o nariz para o trabalho dos Menudos, e os adolescentes curtiam esse som.

6- O que significou passar de uma banda do estilo Verminose para um projeto como Magazine?

R: Foi por oposição da gravadora, pois eles achavam que o Verminose não tocaria nas FMs .
  
7-O que pensas da música dos anos 2000, achas que o país caiu numa crise de criatividade ou é possível ver boas bandas surgindo?

R: Não vejo nada animador, a sensação é que falta talento em todas as áreas, no teatro, no humor, na música, vamos torcer que surja alguma coisa boa por aí, com esses funks está mal.

8-Como entende a música feita pelo Made in Brazil,  essa grande banda dos primórdios do rock brasileiro? Como foi com os mesmos?

R: O Made dispensa qualquer comentário, The Best...  tocar com eles foi  maravilhoso.

9-Nos fale sobre seus outros projetos culturais e musicais que não foram citados aqui, como por exemplo as parceiras com Amado Batista.

R:Projetos culturais: sou artista plástico também, estou desenvolvendo trabalhos de pintura para uma breve  exposição. Quanto ao Amado Batista, para mim é um grande gentleman, um cara formidável e tocar com ele foi uma grande honra.

10- Conte-nos sobre seu programa de rádio, que tipo de trabalho vem desenvolvendo no mesmo? Qual, na sua opinião o papel do radialista e do comunicador social hoje? O que pensas sobre os programas de rádio que vem sendo desenvolvidos pelo país?  

R: O programa pode ser sintonizado na rádio globo AM 1.100. Faço a produção do programa. O papel do radialista e do comunicador é muito importante, por formar opiniões, mas o que vejo hoje em dia é que faltam talentos grandes na área. Eu acho os programas que vêm sendo desenvolvidos bem legais, mas deveriam dar mais ênfase nas coisas do nosso país.

 11-Qual a produção cultural de sua autoria que mais curte, seja ela música, programa , texto, arte, etc...?


R: Gosto muito das ilustrações que fiz para algumas revistas, capa de discos. etc...

 12- Que música e bandas (atuais ou antigas) tem gostado de ouvir nos tempos de hoje? Conte-nos se está lendo algum livro ultimamente (ou sobre o ultimo livro que leu) e o que achou do mesmo.

R: Das atuais Artic  Monkeys, Franz Ferdinand, Charlie Brown JR . Das mais antigas, Rolling  Stones, Beatles, Black Crowes e etc...
Estou na metade do livro Memorias de um Sargento de Milícias, e estou curtindo bastante o livro até o momento.

13- Nos fale do que pensa sobre a internetização da cultura brasileira. Temos algo a ganhar e algo a perder com ela? 

R: Eu vejo com muito medo, temo perder a nossa identidade.

14-Tens um lado espiritual muito bonito, como foi reviver esse lado durante esse tempo em sua vida? Acreditas que rock'n'roll pode, de alguma forma, atrapalhar esse lado?

R: Procuro viver na melhor forma possível, sem fazer mal a ninguém. Pelo contrario, o rock'n'roll  não interfere em nada.

15- Você é uma pessoa até hoje sabemos, com uma obra  muito querida por seus amigos e família. Qual a importância da família pra vida da música? Achas que a família  é um valor que deve ser preservado ou precisamos entender família de uma forma diferente nos dia de hoje?

R: A família é um ponto chave de uma sociedade, eu sou muito família, a violência que nós assistimos todos os dias no mundo é resultado da falta de uma família estruturada .

16- Deixe uma mensagem para os jovens, e leitores do Mondo Teeno,  em geral!  

R:  Amigos, curti muito essa entrevista, valeu mesmo, deixo  um grande abraço...


17-Onde poderão os leitores entrar em contato com sua obra antiga e atual? Deixe um contato de e-mail seu!

R:  No facebook e no e-mail: trinkao batera@hotmail.com

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