A artista plástica brasileira é uma das revelações na pintura surrealista e fantástica dos últimos tempos. Com ascendência oriental e misturando técnicas diversas em suas obras, ela envolve pela poesia e delicadeza com que aborda o mundo dos sonhos e dos contos de fadas. Seu trabalho, que começou a ser difundido pela internet, hoje conquista fãs e admiradores nos quatro cantos. Nesta entrevista ela fala de sua coleção FairyFables, música e o papel do artista no mundo de hoje.
1)Quando você começou a pintar? É possível notar uma evolução de temas nas suas pinturas?
Como profissão eu comecei a pintar há mais de 20 anos, sendo 12 como profissão.
No começo tive muita influência de Klimt e do country americano e Pop americano também. Os trabalhos eram mais ilustrativos, mais infantis. Depois de um longo período (5 anos) sem pintar, surgiu esta nova realidade. Nem eu sabia o que esperar e quando recomecei, os primeiros rabiscos já eram diferentes dos trabalhos anteriores.
2)Seu trabalho envolve colagens, grafite, aquarela, vários tons e tipos de técnicas. Em que momento essas diferentes manobras começaram a se misturar? É possível identificar isso?
Já nos trabalhos anteriores (de 6 anos atrás), eu misturava lantejoulas e strass. E com o tempo e muita leitura e pesquisas vi diferentes tipos de técnicas e materiais e misturas químicas que dão um resultado bem particular ao trabalho.
3)Como você nomeia ou classifica a sua arte?
Sem rótulos .... uma mistura de pop, com surrealismo (em algumas pinturas), gosto do gótico e do lúdico formando um conceito de dualidade, Yin/Yang.Com certeza é contemporâneo. Gosto quando as pessoas vão descobrindo, com o tempo, elementos novos que passaram desapercebidos.
4)Em Maio deste ano houve uma exposição de suas telas na Curadoria de Arte em Recife. Qual o resultado deste tipo de evento para um artista independente?
Foi além das minhas expectativas. Eu via que meu trabalho era bem aceito na net, mas não esperava um retorno tão rápido! E apesar de pintar há anos, foi minha 1º exposição! E ainda individual! O saldo foi super positivo.
5)Expectativas quanto a políticas culturais e públicas de incentivo a arte e aos artistas em Natal?
Bom. Infelizmente, em Natal, quase não há espaço para arte.. O governo estimula o turismo, mas não muito a cultura. Mas é o lugar onde moro e tenho braços, pernas e uma cabeça pensante.... vamos à luta com armas que estão disponíveis. Não adianta lamentar nem dar desculpas (assim seria fácil demais né), O negócio é esquentar o movimento artístico da cidade. Vai acontecer dia 11.8 na UFRN uma exposição coletiva de alunos e artistas convidados e vai ter um trabalho meu lá.
Fora isso, estou em contato com alguns artistas da cidade para trocarmos figurinhas!
6)A coleção FairyFables encanta pela sua delicadeza e profundidade ao abordar os assuntos da infância com tom despretensioso e ao mesmo tempo poético. Qual a mensagem da artista para aqueles que passam os olhos pelas pinturas desta coleção?
Fairyfables foi um presente para mim! Eu amei e me identifiquei muito com cada quadro. Cada um conta uma história da minha vida, do meu cotidiano. O objetivo é de levar o espectador para o mundo de fadas e poesia. Adoraria ter o dom da escrita para poder colocar em ordem meus pensamentos, mas como não tenho, uso o dom que foi me dado, os pincéis!
7)Derrida, um filósofo contemporâneo, acredita na morte do autor. Com isto, entre outras coisas, ele quer dizer que entre autor e expectador há uma vala que impossibilita para o segundo recebe-la por completo do primeiro. Então, por mais que o autor queira comunicar algo, ninguém entenderá a sua mensagem primeira, pois cada um forma um universo em sua mente com o que recebe. Derrida desenvolveu esta idéia tendo por base a comunicação através de textos. Você acredita que as artes plásticas passem pelo mesmo drama?
Sim! Mas não vejo como um dilema e sim como algo pessoal. Acho que assim como muitos textos, as pessoas vêem o que querem, o que estão sentindo no momento.E isso é bom! A identificação, achar que aquele texto, ou aquela música, ou um quadro, cabe como uma luva em você!
8)Em suas telas podemos ver, em grande parte, um fundo natural, uma figura animal ou algum corpo celeste compondo cena para uma personagem feminina em primeiro plano. Qual o peso simbólico do feminino nestas pinturas?
Eu adoro tudo que é leve, suave e acho que as meninas retratam isso muito bem! E como disse no começo, gosto da dualidade, colocando elas em posições desconfortáveis, ou com um tema desconfortável, tatuadas, caolhas e melancólicas ... como cicatrizes adquiridas com o tempo.
9)Alguma tela ou trabalho de que goste mais, ou que queira destacar?
The Captive Heart (ao lado). Este para mim é o trabalho que mais gosto. Gosto do recado que ele passa.
Não é o de melhor técnica, nem usei materiais nobres e é um quadro pequeno, mas...
O coração cativo... é o que falta hoje. Na rua, na vizinhança, no trabalho... é o que falta nas pessoas. Ela é a guardiã de algumas virtudes como a caridade, a paciência e a humildade.
10) Em seus trabalhos podemos ver um mundo fantasioso sendo criado as pinceladas e traços. Você acredita no papel especial da fantasia para a formação do indivíduo? Como acha que a indústria do cinema e da televisão tem se apropriado disso para comover os pequeninos?
SIM! A fantasia faz parte da vida. Mesmo nos adultos!Elas servem para desestressar. Têm exemplos recentes no cinema: Narnia, Harry Potter, Game of Thrones, Homem Aranha, Batman... e posso citar uma lista quase infinita!
11)Quais os artistas que influenciaram seu trabalho como pintora e desenhista? Você se vê seguindo a linha de alguém ou criando algo novo?
Tive muitas influências dos clássicos como Klimt, Dalí, aos contemporâneos como Ray Cesar, Brian Viveros. Tudo que eu fiz, tudo que eu faço, é resultado de 34 anos de amor pela arte. Não só quadros, mas música, cinema, literatura.... você pega uma ideia, uma tonalidade, admira um artista e vai absorvendo todas essas informações disponíveis. Isso é o que eu sigo, é assim que eu faço minha arte.
12)Qual o papel do artista no mundo contemporâneo?
O papel do artista e quando falo artista, eu quero dizer músicos, autores, poetas....ainda é o de expressar. Mostrar a vida com outros olhos, uma visão diferente.
Sim! às vezes eu passo mais de 1semana só pensando nas cores de um quadro. Não consigo começar sem antes ter as cores. Gosto de pesquisar, sobre o tema que eu quero propor e combinar as tonalidades para instigar a mensagem do trabalho.
14)Você é uma artista tradicional nas técnicas de trabalho. Usa tintas, pincéis e etc. Na atualidade a pintura e os trabalhos feitos a mão perderam um pouco espaço para ferramentas como o corel draw e diversos outros aplicativos e softwares que trazem o desenho e a criação para uma realidade virtual. Como você enxerga isso?
No percurso da história tudo muda né! Novos conceitos, novas mídias, novas visões.... tudo é arte e faz parte da sua história! E você pode usá-las a seu favor! Não existe história sem desenvolvimento e mudanças, o que se faz é absorver, aprender e fundir!
15)Que tipo de pessoa normalmente se sente tocada ao ver suas telas?
Olha, já me surpreendi com tantas pessoas diferentes comprando e comentando sobre meus trabalhos... mas normalmente são pessoas que gostam da magia, do imaginário, de mundos imaginários. Pessoas que gostam de ouvir histórias!
16) Há entre as suas telas um gato de terno, na estica, tocando um contra-baixo. Como a música influenciou os seus trabalhos e qual o papel dela nessa coleção da qual ele faz parte?
A série PARDOS será toda relacionada aos gatos e sua vida boêmia, barulhenta e ao mesmo tempo silenciosa... onde " à noite, todos os gatos são pardos". O projeto ainda está em andamento.
17) Projetos para o futuro?
Sim! Sempre! Vou começar essa semana um curso de Hiper realismo com um artista maravilhosos aqui de Natal.
Dia 11.08 começa uma exposição coletiva, chamada EU-OUTRO, realizada pela UFRN.
Um projeto em andamento para CASA FORA Do EIXO em SP.
E muitas encomendas!
18) O país tem nomes como Tomie Otaki, por exemplo, que carregam, como no seu caso, a descendencia japonesa e a capacidade de inovar no circuito artistico nacional, servindo de referencia. A arte tipica oriental ou os artistas com tal ascendencia te influenciaram de um modo?
Sim muito! A arte no japão sempre fez parte do cotidiano e não foi diferente na minha família. Desde pequena eu aprendi a fazer origamis, kirigamis, caligrafia.
As pinturas clássicas japonesas têm uma sutilidade e uma força características e belíssimas!
Sem dúvida tive muita influência do Japão e ainda tenho, pois minhas damas tem uma pontinha de Mangá.
Neil Gaiman ou Alan Moore?
Gaiman
Rosas ou Margaridas?
Rosas
Cinema ou Teatro?
Cinema
Soul ou Jazz?
Jazz
Bonecas ou Carrinhos?
Bonecas
19) Deixe um recado para os admiradores de sua arte.
Muito amor, paz e sabedoria! Sempre!
Obrigada pela entrevista, conte sempre com o blog Mondo Teeno quando precisar!
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Muito bom! Parabéns para a repórter e a artista.
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