O diálogo foi uma das questões mais importantes no surgimento da filosofia. Serviu de modelo teórico de uma ação prática. Platão, na antiguidade clássica, usou-o como estilo para mostrar que a filosofia dependia da conversação. Ele queria mostrar que ela não era uma teoria isolada das relações humanas. Que nascia da diferença do pensamento de cada um que entrava em contato com o pensamento de outro. Chegou a dizer que o pensamento era o diálogo da alma consigo mesma num sentido muito próximo do “falar com os próprios botões” que conhecemos tão bem. Pensar era uma questão de linguagem. O pensamento precisava das palavras, da gramática, da língua, do imaginário, do mito, para se expressar e, por isso, o cuidado com a escolha e o uso de todos estes elementos era tão essencial.
Da conversação é que surgem todas as nossas relações sociais: desde a família até as decisões políticas, passando pela amizade e pelo amor. É porque não sabemos que a arte da conversa é muito mais do que a mera persuasão, que convencimento ou sedução, que perdemos de vista sua função ética. Conversar serve para criar laços sinceros e reais. Com ele se funda o que chamamos sociedade cujo laço essencial é o amor, segundo Humberto Maturana, importante biólogo e filósofo chileno da atualidade.
Ninguém conversa mais
Desaprendemos de conversar por alguns motivos. Um deles é o descaso que temos com as palavras. Nem nos preocupamos em conhecê-las, não avaliamos a história da humanidade que nelas se guarda. Não imaginamos que palavras tão comuns quanto liberdade, memória, história, pensamento, prática, e tantas outras possuem uma vasta história. E não se trata apenas da etimologia, da origem dos nomes, mas da função simbólica, do que está guardado nas palavras como sentido que vai além delas e mostra o mundo humano dos afetos, sentimentos, desejos, projetos. Não apenas os poetas e escritores devem cuidar das palavras, mas todos os humanos.
Quantas vezes parecemos conversar, mas isso não ocorre.
Conversações estranhas, porque sem diálogo, aparecem quando numa festa, num encontro casual, ou na escola, no trabalho, ou mesmo em casa, contamos sobre um filme que vimos. A pessoa a quem nos dirigimos, quem deveria conversar sobre o que lhe dizemos, recorre imediatamente a outro filme que ela viu ou diz não gostar de cinema. Fazemos isso e assim nem conversamos sobre o filme assistido por quem narra o fato, nem o visto por quem o ouve. Perdemos a capacidade de prestar atenção no que foi dito. A capacidade de escutar está em extinção. Se usarmos outro exemplo perceberemos o fenômeno de modo ainda mais claro: quando alguém fala de seus problemas, o outro, aquele que deveria ouvir, sempre comparece com seus exemplos interrompendo a atenção necessária à exposição do primeiro, quando não chega a dizer “não quero ouvir, pois isso não me acrescentará nada”, como se conversar – o que fazemos de mais humano - fosse uma troca mercantil de lucros e ganhos. Ou ainda, interrompe com um “eu sei” prepotente, inviabilizando toda descoberta. Em outras palavras, nos tornamos – em graus variados - incomunicáveis. Em tempos de comunicação de massas, numa sociedade estimulada pela mídia que nem sempre cumpre com seu papel de comunicar, esta se tornou uma questão essencial.
Tocar um instrumento musical é uma bela forma de comunicar nossos sentimentos. Hoje o MondoTeeno publica o breve comentário de Nina Soares, estudante de arquitetura, sobre o instrumento que ela elegeu como companheiro em sua jornada!
"A
música sempre esteve presente na minha vida. Quando mais nova, me
marcaram momentos específicos, como minha mãe fazendo faxina ao som
de Mozart, Bach, ou algum outro grande nome da música erudita, e os
passeios de carro com meu pai ouvindo Led Zeppelin, Pink Floyd, ou
outro clássico do rock.
Na
minha adolescência, quando se pensava em aprender algum instrumento,
logo vinha à mente o violão, mas isso nunca me despertou um grande
interesse. Foi na primeira vez que vi uma bateria de perto que me
aflorou o desejo de aprender música. Falei para a minha mãe que
queria ter aulas de bateria, e ela, como grande incentivadora de tudo
que envolvia criatividade, imediatamente procurou uma escola gratuita
e me matriculou. E logo na primeira aula, quando sentei na bateria,
sabia que estava no lugar certo.
Desde
então a bateria tem sido a minha válvula de escape do estresse do
dia-a-dia. Nada como tocar por algumas horas pra relaxar. Sempre saio
cansada, mais aliviada e pronta pra voltar à rotina. Essa é a minha
história com a bateria."
Palmas, no coração do Brasil, é uma cidade que, a despeito do que poderiam imaginar os cidadãos das velhas metrópoles brasileiras, apresenta músicos e artistas com talentos inovadores e capacidades reflexivas dignas de atenção. Hoje o Mondo Teeno publica a entrevista feita com a banda Cão de Rua, surgida em 2012 da amizade entre o compositor mineiro Abel Paiva e o vocalista paulista Marcelo Linares. Para completar o quarteto, o baterista Thiago Play e o baixista Fanuel Schwengber foram convocados. Com um som simples e honesto, a banda é representante do imaginário jovem tocantinense, estando suas composições ligadas à magia de Taquaruçu e à capacidade de ressoar em qualquer coração que se entregue à estrada, seja ela física, como a que liga o Jalapão às demais capitais do país, seja ela poética, representando a jornada da vida. Apreciem a conversa!
Dica: Ouçam o single acima durante a leitura da entrevista!
Como tem sido participar de eventos em Palmas, uma
cidade relativamente nova, e com uma cena musical em formação?
Sensação de encarar
a boa batalha, correr pelo certo. Não tem sido nada fácil, mas é um caminho
complicado mesmo, independente do lugar. E apesar dos altos e baixos, está
valendo a pena. Vamos continuar participando e contribuindo! É o lugar da nossa
morada, nossa cidade, onde estão nossos maiores parceiros e colaboradores.
Estamos todos crescendo junto com a cidade.
A banda Cão e Rua
tem uma influência nítida rock'n'roll, uma pitada da música popular brasileira
e, ao mesmo tempo, umas jogadas sessentistas, lembrando o tom retrô que tem se
fortalecido pelo Brasil nos últimos anos. Como podemos entender a rede de
influências que caracteriza o som de vocês?
Concordo com você, tem uma tonalidade retro e influência do rock
clássico, rock nacional e da musica popular brasileira, mas não nos resumimos
ao que foi apresentado até agora. Ainda temos muito pra mostrar. Talvez com o
tempo fique difícil identificar com tanta nitidez um gênero musical no som do
Cão de Rua. Talvez porque a coisa é bem solta mesmo, nada intencional, são
canções compostas no violão.
Quais as bandas com
as quais vocês costumam tocar, ou gostariam de tocar pelas redondezas?
Costumamos tocar com o Glauber Benfica e com o Nego D’agua, mas nem
sempre temos o privilegio de dividir a noite com outra banda.
E se pudessem
ressuscitar alguém para fazer uma jam com vocês, que músico seria? Caso cada
membro da banda tenha uma opinião diferente, podem falar separadamente.
Seria o John Lennon.
Gostaria que vocês
falassem sobre o perfil das pessoas que costumam ir ao som de vocês e a que
tipo de público vocês costumam dirigir a voz e as notas.
Seria muita
pretensão nossa querer agradar todo mundo, então apesar da vontade de alcançar
diferentes públicos, sabemos que não é bem assim e não fazemos questão de nada,
Deixamos a coisa acontecer naturalmente.
Além dos amantes do
Rock, tenho percebido galerasque geralmente curtem sertanejo, samba e outros
estilos musicais, começarem a se interessar pelo Cão de Rua. Isso é ótimo!
Fazemos musicas
honestas, com letras de fácil compreensão para aqueles que não se aventuram na
profundidade das entrelinhas. Tem comunicação pra quem joga uma agua no rosto
ou apenas olha seu reflexo no lago, no entanto, também, tem para aqueles que
mergulham profundo.
Onde podemos encontrar o material de vocês (virtual
ou físico) para ouvir?
O EP “Pessoas
Felizes” está disponível no site da banda: www.caoderua.com
Gostaria que nos falassem sobre os festivais nos
quais já tocaram e qual a importância desses eventos, de acordo com seu ponto
de vista.
Já tocamos nos
principais festivais de Palmas: TOME, TENDENCIES e PMW. É importante
participar, estar presente e construir essa historia de resistência e
insistência ao lado dos produtores e todos os envolvidos.
O que acham do financiamento público a novos
músicos em Palmas?
Financiamento
publico é bem vindo pra somar, mas nunca pode ser o objetivo, uma meta.
Honestamente, ainda nem participamos de nenhum, reconheço que existe essa
divida do estado com a classe artística, além de ser uma ótima forma de
investir o dinheiro publico. Qualquer
tanto que fizerem ainda será pouco, é preciso muito mais investimentos,
principalmente aqueles de infraestrutura, profissionalizantes e todos os que
dão frutos reais.
Uma coisa
importante a respeito da nova geração, é que a arte precisa desempenhar o seu
papel e agir em prol das transformações necessárias, libertar mentes, ampliar
horizontes culturais e artísticos. De maneira alguma pode ficar de rabo preso,
na sombra dos governos ciscando migalhas.
Em que aspectos acham que a cidade poderia crescer
nesse sentido?
O primeiro aspecto
seria com relação a estrutura jurídica e técnica das pastas responsáveis pela
cultura na prefeitura e no governo estadual, é necessário que se estruturem
para assim poderem receber todo o recurso federal disponível. É o primeiro passo de uma caminhada muito
longa. Mas em primeiro lugar devemos ser independentes e nos adaptar às
possibilidades da nossa era digital de tecnologia acelerada, o mundo está aí,
temos que mudar essa mentalidade de complexo disfarçado e entender que podemos
sim apresentar um bom trabalho daqui do nosso lugar, algo honesto, nada mais e
nada menos que isso. É importante ter
voz ativa, poder contestar e dialogar com o poder público e toda a sociedade,
reivindicar, desempenhar aquele que é o principal papel da arte ao longo da
historia.
Gostam de poesia ou literatura? Indiquem-nos um (ou
uns) livros.
Gostamos tanto que
fazemos poesias e contamos historias em forma de canção.
A verdade é que
gostaríamos de indicar a bíblia e a biblioteca inteira rs, mas vamos lá:
A Divina Comédia - Dante Alighieri / Odisséia
- Homero / Poemas de Álvaro de Campos – Fernando Pessoa / Morte e Vida Severina
- João Cabral de Melo Neto / Distraídos Venceremos - Paulo Leminski / Galáxias - Haroldo de Campos / Antologia Poética - Vladimir
Mayakovsky / Crônica de um Amor Louco - Charles Bukowski
Muitos músicos de hoje em dia têm feito críticas
frenéticas aos rumos da música brasileira hoje, dizem que perdemos muito do
poder de canção que antes tínhamos, especialmente pela massificação da cultura.
O que pensam da música popular brasileira hoje? Acham que as sedições da
tropicália ainda repercutem, ou estamos vivendo mesmo um momento de estagnação
poética?
A musica brasileiro sempre foi, é e será muito rica. Agora a musica que
hoje é popular no Brasil é de uma pobreza assustadora. Esse é o reflexo do
país, de séculos de colonização, exploração e manipulação. Um povo de mente
atrofiada, inocentes frutos de um meio pernicioso e adestrador. Fico
impressionado com a facilidade com que as pessoas aceitam as ideias gerais e não
querem pensar por si só. Na verdade, junta a preguiça de exercitar a mente com
o fato de nem saberem como podem fazer isso e, assim, “caminha a humanidade” no
Brasil, “com passos de formiga e sem vontade”.
A tropicália é algo maior que a própria musica que dá voz ao movimento, a
tropicália é o nosso iluminismo que de certa forma naufragou em sua própria
ilusão Rock and Roll. Por falar nisso, vamos reconhecer a falta de conteúdo e
compromisso do próprio rock nacional. Depois da década de oitenta, o rock feito
no Brasil passou por um período de estagnação mental e crise de identidade
poética, rendido ao apelo de tentar continuamente reproduzir um sucesso gringo
na versão pop rock nacional. Entretanto, vivemos um novo momento, cheio de
bandas incríveis por todo território nacional, de norte a sul, uma nova geração
que tem algo a dizer, com conteúdo e proposito! Muita coisa boa vai rolar nas
voltas que o mundo dá! O momento não é mais de estagnação poética, e sim de
renascimento, a tropicália vive, respira, assim como a musica brasileira em
toda a sua plenitude!
Podemos perceber
referências a grandes nomes da literatura em suas canções, como Saramago. O
cinema também influencia seu trabalho? Falem-nos sobre filmes que tocaram sua
forma de poetizar nas músicas.
Claro, sempre influenciou. Vou citar alguns filmes que adoro:
O Poderoso Chefão – Francis Ford Coppola / Laranja Mecânica – Stanley
Kubrick / Aconteceu Naquela Noite – Frank Capra / Luzes da Cidade ~Chaplin /
Cinema Paradiso – Giuseppe Tornatore / Rashoman – Akira Kurosawa / A Felicidade
não se compra – Frank Capra
Deixem uma mensagem para a juventude!
Muitos são os
caminhos, as possibilidades e alternativas, façam suas próprias escolhas,
analisem simbolicamente as coisas, não deixem que o sistema adestre vocês.
Quando tiverem seus filhos ofereçam opções, apresentem a eles o som de: Robert
Jhonson; Tom Jobim; Cartola; Milton Nascimento; Mutantes; Raul Seixas; Legião
Urbana; Barão Vermelho; The Doors; Led Zeppelin; Black Sabbath; Pink Floyd;
Ramones; Nirvana; Radiohead; Musica Barroca; Celta; Clássica; Blues; Jazz;
Reggae; etc...
Acreditem num mundo
melhor, numa sociedade menos corrupta. Tentem melhorar as coisas, sejam vocês
mesmos a mudança que querem no mundo. Não furem fila, tenham uma postura de
vida do bem, foda-se o jeitinho brasileiro, somos muito mais que isso, “somos o
futuro da nação”, vamos tentar, conseguir é outra historia, nem sempre
aproveitamos a sombra da árvore que nossas mãos plantaram, mas outras vidas
poderão!
Todo mundo conhece o Grumpy cat, esse felino que tem conquistado o mundo inteiro com sua cara de mal. A novidade é que alguns artistas da Lowe Mill Arts & Entertainment, compuseram nesse ano de 2013 uma série de imagens clássicas do nosso dia-a-dia, mas modificadas para tematizar o gatinho. Essa que vos mostramos é a da caixa d'água da cidade, numa estrutura pra lá de modificada, tendo ganhado até orelhas! Para conferir mais acesse o link abaixo.