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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Entrevista: Banda Cão de Rua

           Palmas, no coração do Brasil, é uma cidade que, a despeito do que poderiam imaginar os cidadãos das velhas metrópoles brasileiras, apresenta músicos e artistas com talentos inovadores e capacidades reflexivas dignas de atenção. Hoje o Mondo Teeno publica a entrevista feita com a banda Cão de Rua, surgida em 2012 da amizade entre o compositor mineiro Abel Paiva e o vocalista paulista Marcelo Linares. Para completar o quarteto, o baterista Thiago Play e o baixista Fanuel Schwengber foram convocados. Com um som simples e honesto, a banda é representante do imaginário jovem tocantinense, estando suas composições ligadas à magia de Taquaruçu e à capacidade de ressoar em qualquer coração que se entregue à estrada, seja ela física, como a que liga o Jalapão às demais capitais do país, seja ela poética, representando a jornada da vida. Apreciem a conversa!


Dica: Ouçam o single acima durante a leitura da entrevista!

Como tem sido participar de eventos em Palmas, uma cidade relativamente nova, e com uma cena musical em formação?
Sensação de encarar a boa batalha, correr pelo certo. Não tem sido nada fácil, mas é um caminho complicado mesmo, independente do lugar. E apesar dos altos e baixos, está valendo a pena. Vamos continuar participando e contribuindo! É o lugar da nossa morada, nossa cidade, onde estão nossos maiores parceiros e colaboradores. Estamos todos crescendo junto com a cidade.

A banda Cão e Rua tem uma influência nítida rock'n'roll, uma pitada da música popular brasileira e, ao mesmo tempo, umas jogadas sessentistas, lembrando o tom retrô que tem se fortalecido pelo Brasil nos últimos anos. Como podemos entender a rede de influências que caracteriza o som de vocês?

Concordo com você, tem uma tonalidade retro e influência do rock clássico, rock nacional e da musica popular brasileira, mas não nos resumimos ao que foi apresentado até agora. Ainda temos muito pra mostrar. Talvez com o tempo fique difícil identificar com tanta nitidez um gênero musical no som do Cão de Rua. Talvez porque a coisa é bem solta mesmo, nada intencional, são canções compostas no violão.

Quais as bandas com as quais vocês costumam tocar, ou gostariam de tocar pelas redondezas?
Costumamos tocar com o Glauber Benfica e com o Nego D’agua, mas nem sempre temos o privilegio de dividir a noite com outra banda.

E se pudessem ressuscitar alguém para fazer uma jam com vocês, que músico seria? Caso cada membro da banda tenha uma opinião diferente, podem falar separadamente.


Seria o John Lennon.

Gostaria que vocês falassem sobre o perfil das pessoas que costumam ir ao som de vocês e a que tipo de público vocês costumam dirigir a voz e as notas.
Seria muita pretensão nossa querer agradar todo mundo, então apesar da vontade de alcançar diferentes públicos, sabemos que não é bem assim e não fazemos questão de nada, Deixamos a coisa acontecer naturalmente.
Além dos amantes do Rock, tenho percebido galerasque geralmente curtem sertanejo, samba e outros estilos musicais, começarem a se interessar pelo Cão de Rua. Isso é ótimo!
Fazemos musicas honestas, com letras de fácil compreensão para aqueles que não se aventuram na profundidade das entrelinhas. Tem comunicação pra quem joga uma agua no rosto ou apenas olha seu reflexo no lago, no entanto, também, tem para aqueles que mergulham profundo.
Onde podemos encontrar o material de vocês (virtual ou físico) para ouvir?
O EP “Pessoas Felizes” está disponível no site da banda: www.caoderua.com
Gostaria que nos falassem sobre os festivais nos quais já tocaram e qual a importância desses eventos, de acordo com seu ponto de vista.
Já tocamos nos principais festivais de Palmas: TOME, TENDENCIES e PMW. É importante participar, estar presente e construir essa historia de resistência e insistência ao lado dos produtores e todos os envolvidos.
O que acham do financiamento público a novos músicos em Palmas?
Financiamento publico é bem vindo pra somar, mas nunca pode ser o objetivo, uma meta. Honestamente, ainda nem participamos de nenhum, reconheço que existe essa divida do estado com a classe artística, além de ser uma ótima forma de investir o dinheiro publico.  Qualquer tanto que fizerem ainda será pouco, é preciso muito mais investimentos, principalmente aqueles de infraestrutura, profissionalizantes e todos os que dão frutos reais.
Uma coisa importante a respeito da nova geração, é que a arte precisa desempenhar o seu papel e agir em prol das transformações necessárias, libertar mentes, ampliar horizontes culturais e artísticos. De maneira alguma pode ficar de rabo preso, na sombra dos governos ciscando migalhas.
Em que aspectos acham que a cidade poderia crescer nesse sentido?
O primeiro aspecto seria com relação a estrutura jurídica e técnica das pastas responsáveis pela cultura na prefeitura e no governo estadual, é necessário que se estruturem para assim poderem receber todo o recurso federal disponível.  É o primeiro passo de uma caminhada muito longa. Mas em primeiro lugar devemos ser independentes e nos adaptar às possibilidades da nossa era digital de tecnologia acelerada, o mundo está aí, temos que mudar essa mentalidade de complexo disfarçado e entender que podemos sim apresentar um bom trabalho daqui do nosso lugar, algo honesto, nada mais e nada menos que isso.  É importante ter voz ativa, poder contestar e dialogar com o poder público e toda a sociedade, reivindicar, desempenhar aquele que é o principal papel da arte ao longo da historia.
Gostam de poesia ou literatura? Indiquem-nos um (ou uns) livros.
Gostamos tanto que fazemos poesias e contamos historias em forma de canção.

A verdade é que gostaríamos de indicar a bíblia e a biblioteca inteira rs, mas vamos lá:
 A Divina Comédia - Dante Alighieri / Odisséia - Homero / Poemas de Álvaro de Campos – Fernando Pessoa / Morte e Vida Severina - João Cabral de Melo Neto / Distraídos Venceremos - Paulo Leminski / Galáxias  - Haroldo de Campos / Antologia Poética - Vladimir Mayakovsky  /  Crônica de um Amor Louco - Charles Bukowski
Muitos músicos de hoje em dia têm feito críticas frenéticas aos rumos da música brasileira hoje, dizem que perdemos muito do poder de canção que antes tínhamos, especialmente pela massificação da cultura. O que pensam da música popular brasileira hoje? Acham que as sedições da tropicália ainda repercutem, ou estamos vivendo mesmo um momento de estagnação poética?

A musica brasileiro sempre foi, é e será muito rica. Agora a musica que hoje é popular no Brasil é de uma pobreza assustadora. Esse é o reflexo do país, de séculos de colonização, exploração e manipulação. Um povo de mente atrofiada, inocentes frutos de um meio pernicioso e adestrador. Fico impressionado com a facilidade com que as pessoas aceitam as ideias gerais e não querem pensar por si só. Na verdade, junta a preguiça de exercitar a mente com o fato de nem saberem como podem fazer isso e, assim, “caminha a humanidade” no Brasil, “com passos de formiga e sem vontade”.
A tropicália é algo maior que a própria musica que dá voz ao movimento, a tropicália é o nosso iluminismo que de certa forma naufragou em sua própria ilusão Rock and Roll. Por falar nisso, vamos reconhecer a falta de conteúdo e compromisso do próprio rock nacional. Depois da década de oitenta, o rock feito no Brasil passou por um período de estagnação mental e crise de identidade poética, rendido ao apelo de tentar continuamente reproduzir um sucesso gringo na versão pop rock nacional. Entretanto, vivemos um novo momento, cheio de bandas incríveis por todo território nacional, de norte a sul, uma nova geração que tem algo a dizer, com conteúdo e proposito! Muita coisa boa vai rolar nas voltas que o mundo dá! O momento não é mais de estagnação poética, e sim de renascimento, a tropicália vive, respira, assim como a musica brasileira em toda a sua plenitude!

Podemos perceber referências a grandes nomes da literatura em suas canções, como Saramago. O cinema também influencia seu trabalho? Falem-nos sobre filmes que tocaram sua forma de poetizar nas músicas.

Claro, sempre influenciou. Vou citar alguns filmes que adoro:
O Poderoso Chefão – Francis Ford Coppola / Laranja Mecânica – Stanley Kubrick / Aconteceu Naquela Noite – Frank Capra / Luzes da Cidade ~Chaplin / Cinema Paradiso – Giuseppe Tornatore / Rashoman – Akira Kurosawa / A Felicidade não se compra – Frank Capra

Deixem uma mensagem para a juventude!
Muitos são os caminhos, as possibilidades e alternativas, façam suas próprias escolhas, analisem simbolicamente as coisas, não deixem que o sistema adestre vocês. Quando tiverem seus filhos ofereçam opções, apresentem a eles o som de: Robert Jhonson; Tom Jobim; Cartola; Milton Nascimento; Mutantes; Raul Seixas; Legião Urbana; Barão Vermelho; The Doors; Led Zeppelin; Black Sabbath; Pink Floyd; Ramones; Nirvana; Radiohead; Musica Barroca; Celta; Clássica; Blues; Jazz; Reggae; etc...
Acreditem num mundo melhor, numa sociedade menos corrupta. Tentem melhorar as coisas, sejam vocês mesmos a mudança que querem no mundo. Não furem fila, tenham uma postura de vida do bem, foda-se o jeitinho brasileiro, somos muito mais que isso, “somos o futuro da nação”, vamos tentar, conseguir é outra historia, nem sempre aproveitamos a sombra da árvore que nossas mãos plantaram, mas outras vidas poderão!

Nós, do Mondo Teeno agradecemos a entrevista!

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