Uma fotógrafa, uma
máquina e o mundo. Yanic é uma artista brasiliense que se criou no meio da
cidade. Vivendo, praticando alguns hobbies, se dedicando à academia (artes e comunicação social), e de
repente, lá estava ela, com uma grande -e diversificada em temáticas- produção
artística. Hoje, em entrevista ao Mondo Teeno, ela falará um pouco sobre
fotografia, cultura e sociedade.
Yanic, antes de mais gostaríamos de agradecê-la pela entrevista, sua fotografia é muito tocante e
sabemos que tem muito a mostrar ao mundo com ela. Vamos à entrevista!
1 1) Acreditamos que suas fotografias
representem bem as cidades, em um aspecto íntimo e personalístico, elas mostram
cenas, pessoas, lugares, sempre têm algo de humano, nem que seja um mínimo
vestígio. Como você escolhe as fotos que irá tirar? Que imagens tenta buscar?

2)Gostaríamos que nos
falasse um pouco sobre suas influências artísticas. Sabemos que gosta da obra
retrato da juventude de Mapplethorpe, parece ter influências da arte pop, busca
trabalhar com afinco a luz e o sentimento nas fotografias. Quem são suas
referências?

3)Há muitas menções à
música em sua produção, como esse aspecto sonoro teria influenciado a produção
de suas imagens? Quais músicos e bandas considera capazes de guiar uma boa
foto? Como mixar imagem e som sem cair na opção do filme?

4)O trabalho desse ano de
2013 ‘Beyond Beauty’ nos toca pelas tonalidades, por ser belo e, ao mesmo
tempo, ‘creepy’. Percebemos que a
estética do terror permeia algumas fotos suas. Como você entende a importância
desse aspecto em sua fotografia? Há uma
mensagem a passar?
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Confira 'Beyond Beauty' Aqui! |
5)É possível
identificar oposições nas suas temáticas. O jovem e o velho, o belo e o feio, o
homem e a mulher. Qual a importância disso? Em que medida isso desperta o
interesse das suas lentes?
Eu acho que isso é
feito inconscientemente. Eu sou uma fotógrafa preguiçosa, não costumo procurar
temas (estou me acostumando a fazer ensaios), então eu aproveito o que está ao
meu alcance. No fundo, assim como Diane Arbus, eu procuro a beleza nos
contrastes e na estranheza.
6)Fale-nos um pouco
sobre o seu projeto de 2009, “Ser Tatuado”. Pudemos encontrar um apanhado bem
diverso da juventude brasiliense alí. Apesar de todos tatuados, vimos pessoas
bem diferentes tanto a nível de nichos
sub-culturais quanto a nível
socio-econômico, sabemos que foi um trabalho com viés acadêmico mas,
gostaríamos de entender de que outras
formas esse trabalho representa a sua produção.
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Confira 'Ser tatuado' Aqui! |
7)Com grande felicidade, enxergamos a presença de animais domésticos em suas fotografias. São imagens
lindas desses companheiros. Elas passam um sentimento muito forte de
intimidade. Como os animais compõem esse cenário inspirador?
Animais são dificílimos
de fotografar. Eles não param quietos, eles não posam, eles não se importam com
a foto. Quando a gente tenta fotografar um animal a gente tem que se sujeitar a
ele e para o fotógrafo isso é uma perda total do controle que é próprio da
fotografia. Eu adoro fotografar bichos por que eles te olham nos olhos.
Inclusive, uma das minhas cachorras, ironicamente, não gosta de foto. Eu ligo, a
câmera ela sai de perto de mim, é bizarro. É claro que eu consigo fotografá-la,
mas só por que a gente tem uma relação de confiança. Além do amor genuíno que
eles expressam, isso é muito legal dos bichos.
8)Os trabalhos 'Paris e
O Amor' e 'London Calling' são lindos, são imagens não comuns desses dois grandes
epítetos da França e da Inglaterra, respectivamente. O que há da Europa na arte
que procura retratar? Como entende a oposição local/geral na fotografia que
busca fazer? Há espaço para ver a brasilidade ou estamos todos vendidos
culturalmente? Isso é importante em sua opinião?
Esses trabalho são
favorecidos pela ocasião. Quando a gente viaja pra Europa é inevitável o choque
cultural, principalmente para brasiliense acostumado com a nossa cidade
modernista. Para mim a grande diferença desses países é que lá as pessoas vivem
a cidade, elas saem de casa. Isso traz uma necessidade muito maior de ter
cidades em que as ruas sejam habitável e amigáveis para as pessoas. Eu acho que
a brasilidade nesses trabalhos se dá na medida em que eu retrato uma realidade
que tá fora da minha, eu estou sempre me posicionando ou como a turista ou como
a voyeur a procura de momentos que para mim são inusitados. Nesse sentido, eu
acho que vale a pena andar inclusive sem uma câmera, para viver aquilo, e depois
pensar na captura da imagem. Quanto à brasilidade, eu acho que sim ela é muito
forte no meu olhar. Primeiro por eu ter inevitavelmente esse espirito sacana
Macunaíma. Por outro lado, a gente aprende a valorizar a própria brasilidade
quando tá em outro país. Existe sim uma espécie de cultura colonizadora imposta
ao Brasil, mas nós somos o país do remix. Aqui a gente já nasce sabendo adaptar
tudo e isso é uma característica da nossa cultura. Eu não sei como a
brasilidade se encaixa exatamente no meu olhar, mas acho inevitável essa
sensação de olhar estrangeiro em fotos dessas cidades, acho que a diferença é
que eu não procurei os monumentos, eu procurei retratar mais os ritmos
urbanos...
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Confira 'Paris e o Amor' Aqui! |
9)Alguns trabalhos seus
são frutos de estudos e necessidades acadêmicas, acreditas que para o artista a
academia seja uma escola ou um limitador? Como vê esse aspecto da criatividade
nesse ambiente?
Eu acho que depende
muito. Com a formação que eu tenho (em artes e comunicação) eu percebo que há
uma certa distancia entre a academia e a arte, mas ao mesmo tempo uma não vive
sem a outra. Os grandes curadores são acadêmicos, mas nem todo artista estudou.
A arte “embasada” foi vista muitas vezes como uma maneira de manter a arte com
as elites e manter a arte como um produto do que sai de uma grande escola e
tudo mais. Hoje em dia o que eu acho é que o meu trabalho como fotógrafa tem a
ver com o meio acadêmico, mas ele não depende da academia para existir. Pelo
contrário, meu interesse acadêmico pela fotografia necessita da minha criação
fotográfica (acho que todo pesquisador de fotografia vai falar isso). Então, no
meu caso, é um processo autoalimentado. Nos dias de hoje o que vale é que você
tenha conceito e consiga superar a cultura de massa, sem necessariamente negá-la,
que você diga algo mas não necessariamente se exponha (as vezes o mistério é o
que traz louvor ao trabalho) e seja atual (no sentido de ser digno de ser
noticiado). Na fotografia é mais difícil por que se tem a impressão de que
qualquer pessoa que domine uma técnica é capaz de produzir uma foto, sendo que
a técnica é secundária. Um bom fotógrafo não é o melhor fotógrafo, mas o mais
sincero. É preciso ficar atento para a linha entre a foto publicitária e de moda
e a foto de arte. Isso sem contar com o fotojornalismo e todos os subgêneros
que existem. A fotografia é um tema que muitas pessoas acham que já foi
resolvido, mas numa sociedade como a nossa eu acredito que ainda há muito para
se analisar e estudar.
10)Achas que na era da
reprodutibilidade técnica a fotografia é um produto sem aura, e portanto não
deve ser considerado arte, ou achas que a iconicidade da fotografia está para além dessas nuances?

11)Você acredita que a
foto pode ser considerada um fator de consciência, no sentido de ser uma chave
para a memória, de fazer as pessoas se lembrarem de quem são, ou é a fotografia
um fator de ebriedade, lugar de transfiguração?

12) Numa fotografia
existe aquilo que o fotógrafo intencionalmente quis produzir e aquilo que o
escapou, tendo, porém, ocupado um espaço na imagem. A isso Barthes chamaria de
studium e punctum. O que pensas sobre as máximas psicológicas do consciente e
do inconsciente no que diz respeito a
capacidade do artista de ter controle sobre sua obra?

13) Fale um pouco sobre
seu projeto com a lomografia. E se entendes essa alienação frente às formas de
produção, inclusive da arte, em que a modernidade caiu, como um ponto de não
retorno. Está tudo perdido e devemos nos adaptar ou é possível estabelecer
alguns parâmetros para não perder de vez as estribeiras?
O meu projeto é sobre a
lomografia como uma forma de contra-movimento à fotografia digital. Eu vou
analisar alguns grupos de fotografia de Brasília e a avaliar por que se faz
fotografia analógica em uma realidade em que sequer é necessário ter câmeras
para produzir fotos. Daí, eu vou fazer uma análise sobre a relação entre
técnica e ideologia e o que mais eu encontrar no caminho. Eu sou otimista, acho
que a nossa sociedade imagética ainda vai se modificar e vamos finalmente nos
acostumar com as imagens a parar de venerá-las. A própria persistência da
fotografia analógica e todo o ritual de revelação de filme muda a relação das
novas gerações com a própria imagem. A visão de que engolimos tudo sem
modificar nosso imaginário, nossa relações com o que reproduzimos para mim não
convém, é uma supersimplificaçao. Não somos só receptores passivos, ciborgues
programáveis, cada dia mais as coisas mudam e novos significados surgem.
14)Está lendo algum –
ou alguns – livro no momento? Se sim, qual? Conte-nos algo sobre ele. Que
tipo de literatura te inspira a fotografia?
tipo de literatura te inspira a fotografia?
Agora que estou de
férias, estou voltando a ler alguns livros que tavam ali parados. Atualmente eu
tô lendo o “Deuses Americanos” do Neil Gaiman e “God Desolution” do Richard Dawkins e um quadrinho do Sandman. Na lista de espera estão o Firestarter do
Stephen King e os três Fundação do Asimov... eu gosto muito de ficção cientifica e
fantasia, inclusive tô com uma ideia de fotografar uma morte com ceifão e tudo
mais. Eu curto muito essa ideia de você pegar uma ideia e transformar em uma
criação visual, principalmente por que esses gêneros têm sim uma estética
fantástica. Eu também acho inspirador os monstros e tudo que envolve eles. O
medo, o horror, o tosco, o indescritível. Eu acho que todos esses sentimentos
literários também estão na fotografia.
15)Deixe uma mensagem
para a juventude e para os leitores do Mondo Teeno!

Não se deixem levar
pela leviandade dos novos meios, produzam antes de reproduzir!
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